A paralisação do governo americano — que já é a mais longa da história, superando o recorde de 35 dias registrado em 2018 — interrompeu a divulgação de muitos dos principais indicadores macroeconômicos, como os números de criação de empregos (Payroll), vagas abertas (JOLTS), consumo das famílias e inflação ao consumidor (PCE). A ausência desses dados, considerados os principais termômetros do ciclo econômico nos Estados Unidos, tem levado analistas a depender de métricas alternativas, tipicamente publicadas por organizações privadas, para se orientar.
O gráfico desta semana compara o comportamento médio de uma série de indicadores alternativos (listados no rodapé) com o movimento da média móvel trimestral da criação líquida de empregos no Payroll, cuja divulgação foi interrompida ainda na leitura de agosto. Para tornar as diferentes métricas comparáveis, foi utilizada a normalização dos dados por meio do z-score. Nota-se que, embora o conjunto de dados se mantenha em níveis historicamente baixos, há sinais de recuperação na margem, sugerindo que o mercado de trabalho pode ter parado de piorar nos últimos dois meses.
Ainda que esse tipo de exercício auxilie a leitura do momento econômico, a limitação na disponibilidade das estatísticas reduz significativamente o nível de convicção no cenário prospectivo. Esse ambiente de incerteza reforça o desafio da autoridade monetária, que precisa agir com ainda mais cautela ao “dirigir na neblina” — parafraseando o chair Jerome Powell, durante a última coletiva de imprensa do FOMC.
Mini Glossário:
Shutdown: Paralisação parcial ou total das atividades do governo americano, quando o Congresso não aprova o orçamento necessário para o funcionamento das agências federais.
Payroll: Indicador que mede a criação líquida de empregos formais na economia dos Estados Unidos, publicado mensalmente pelo Bureau of Labor Statistics.
z-score: Medida estatística que indica a distância, em desvios-padrão, entre um valor observado e a média de uma série.
FOMC (Federal Open Market Committee): Comitê de Política Monetária do Federal Reserve, responsável por definir a taxa básica de juros da economia americana.

